We had the experience but missed the meaning
Ver InfoWe had the experience but missed the meaning, exposição individual na galería silvestre, Madrid, 2018
texto de Sérgio Fazenda Rodrigues, curador da exposição
“We had the experience but missed the meaning”
T.S.Elliot – The Four Quartets - The Dry Salvages
Luísa Jacinto exibe um corpo de trabalho que relaciona um série de pinturas de pequena dimensão (“All I Want”), onde o espectador absorve a imagem, com uma série de pinturas de grande dimensão (“Inside Out”), onde a imagem absorve o espectador.
As obras mais pequenas, apresentam-nos um conjunto de paisagens e um grupo de situações correntes, como andar, parar, fumar ou dormir.
Estas obras são trabalhadas como fragmentos de um todo maior, ou como excertos de algo que está a decorrer e, numa aproximação a um tempo linear, pressente-se o que vem antes e depois do que a imagem mostra. A pintura fixa um instante, mas a duração que ela constrói prolonga-se para lá da figura exposta, numa lógica quase cinematográfica.
Focamos parte de uma sequência, mas há uma hipotética narrativa que fica suspensa. Sem uma acção descritiva, as imagens põe-nos a olhar para lá do que mostram, sussurrando, apenas, a possibilidade de uma história.
Estas pinturas inscrevem-se a meio do suporte e são potenciadas pelo vazio que as circunda. Nesse delicado processo, elas gerem um afastamento, reclamam uma proximidade e tornam-se focos da nossa atenção.
As pinturas de grande dimensão, apresentam-nos locais de passagem. Nelas estamos perante algo que cruza o conformar de um espaço interior e a expansão de um espaço exterior. Se o lado de cá é tendencialmente firme e geometrizado, o lado de lá é predominantemente solto e sem traçado. Algo se manifesta à nossa frente e do fundo para a superfície, esbate-se o limite, o local e a percepção. A figuração dilui-se e com um movimento que já não é linear, nem horizontal, o nosso olhar oscila, em profundidade, para um campo que fica em aberto. Mais uma vez, o que vemos é um troço de algo maior, onde a nossa atenção não se cinge ao contorno e parte à descoberta do que está mais adiante.
Nas suas várias dimensões, estas obras ligam-se por uma ideia de complementaridade. Umas são pequenas, assumidamente figurativas e prometem outro tempo, outras são grandes, tendencialmente abstratas e prometem outro lugar.
O que responde a um olhar penetrante é uma imagem pequena, próxima de um fotograma, onde a extensão se intui lateralmente, numa lógica sequencial. O que responde a um olhar alargado é uma imagem grande, de carácter atmosférico, onde a extensão se advinha em atravessamento, numa lógica pendular.
As obras de Luísa Jacinto configuram-se como pontos de transição, onde há sempre mais do que nos é dado a ver. Estes são processos de ligação gradual, onde se indaga uma ideia de sentido. Não o sentido que se esconde por detrás de uma aparência que apressadamente podemos julgar mas, antes, aquele que é verdadeiramente intrínseco às coisas.